Memória afiada

Entrevista cedida pelo Neurologista Dr. Albert Louis Rocha Bicalho ao Jornal “O Tempo”.

O artigo Memória Afiada está na íntegra em O Tempo.

Segundo uma pesquisa da Sociedade Norte-Americana de Menopausa, mulheres de meia-idade têm mais lembranças do que os homens na mesma faixa etária.

A facilidade das mulheres em se lembrar de datas de aniversário, namoro, casamento e de diversos compromissos, sejam eles profissionais ou não, além daqueles objetos de casa em que os familiares sempre perguntam onde estão, faz com que a memória delas tenha fama de ser melhor do que a dos homens.

E, se por acaso, alguém ainda não acredita nessa reputação, está na hora de dar o braço a torcer. Isso porque, segundo a publicação do jornal Menopause, periódico da Sociedade Norte-Americana de Menopausa (NAMS), a memória das mulheres de meia-idade é melhor do que a dos homens na mesma faixa etária.

Para se chegar a essa conclusão, a entidade realizou testes cognitivos com 212 pessoas de cada um dos sexos, com idades entre 45 e 55 anos, para avaliar a memória episódica, função executiva, processamento semântico e inteligência verbal. A memória associativa e a verbal episódica foram analisadas por meio de um exame de associação entre nome e rosto e de um teste de lembrança seletiva.

“Elas são melhores em reconhecer aspectos emocionais nas outras pessoas e na linguagem, na expressão emocional e artística, na apreciação estética, na linguagem verbal e na execução de tarefas detalhadas e pré-planejadas”, explica o neurologista Albert Louis Rocha Bicalho.

Outra revelação é a de que a memória da mulher na pré-menopausa supera a da pós-menopausa. A explicação é que, além do processo de envelhecimento, que em muitos casos contribui para esse quadro, ocorre também o declínio do nível do estradiol, principal hormônio feminino.

De acordo com o estudo, à medida que esse estrogênio diminui, conforme o avanço da menopausa, as mulheres acham mais difícil recuperar informações e aprender algo pela primeira vez. No entanto, elas continuam a manter e a consolidar as memórias armazenadas de forma eficaz.

“Pesquisas demonstram que o estradiol pode ter influência direta na capacidade de preservação dos neurônios do hipocampo (área responsável pelo armazenamento de memória no cérebro). No caso dos homens, parece haver um declínio cognitivo lento e gradual, enquanto nas mulheres há uma vertiginosa piora da cognição ao entrar na menopausa”, ressalta Bicalho.

Outras pesquisas ressaltam que a memória feminina supera a masculina desde a infância, especialmente quando se trata de acontecimentos da própria vida, uma vez que elas tendem a recuperar essas lembranças mais rapidamente e com mais detalhes. No entanto, a diferença fica mais significativa após a puberdade e segue até a idade adulta.

“A exposição cumulativa ao estrogênio que uma mulher enfrenta ao longo da vida influencia a habilidade cognitiva da vida tardia. Essas acumulações são decorrentes da idade na menstruação e na menopausa”, frisa o neurologista.

Terceira idade

Ainda segundo o estudo, durante o processo de envelhecimento, cerca de 75% das pessoas começam a ter dificuldades de se lembrar das coisas. As mulheres são as que mais relatam os “brancos”, conhecidos como lapsos de memória, e são mais propensas a desenvolver doenças como demência e Alzheimer com a chegada da menopausa.

No entanto, caso tenham uma velhice saudável, elas continuam a ter vantagens sobre os homens em todos os medidores relacionados à memória, garante a pesquisa.

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