Tratamento do TDAH – A importância do conhecimento sobre o transtorno

tratamento do tdahO TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) tem sido objeto de inúmeras discussões. Boa parte destas discussões giram em torno do uso indiscriminado da ritalina no Brasil, especialmente por crianças e adolescentes em fase escolar. As discussões sobre o tratamento do TDAH não podem ser reduzidas ao uso indiscriminado da ritalina, mas sim na seriedade dos prejuízos funcionais que acometem a vida de crianças, adolescentes e adultos que sofrem com este transtorno.

O TDAH não tem uma causa única, existem fatores genéticos (presença de parentes biológicos de primeiro grau com o transtorno) e fatores ambientais (baixo peso ao nascer, tabagismo na gestação, infecções ou exposição ao álcool no útero, condições psicoafetivas da família, e outros), ou uma combinação destes fatores que podem explicar a manifestação do transtorno.

O diagnóstico, assim como o tratamento do TDAH, é multidisciplinar, pois envolve aspectos neurológicos, emocionais, psicomotores e da aprendizagem. Os especialistas que estão aptos a realizar o diagnóstico são: neurologista, psiquiatra ou o neuropediatra. O diagnóstico tem embasamento na história clínica, história familiar, exame neurológico e avaliação dos sintomas. Na maioria dos casos, outros especialistas como o psicólogo, o fonoaudiólogo e o psicopedagogo, poderão auxiliar na análise do caso. Assim, outras avaliações poderão ser complementares, como a avaliação neuropsicológica para levantamento das funções cognitivas preservadas e alteradas, e a avaliação psicopedagógica das habilidades acadêmicas. No caso das crianças e adolescentes, os professores e o pedagogo da escola também poderão ajudar no processo da avaliação.

O TDAH frequentemente pode ser acompanhado de outras comorbidades como: Transtorno Opositor Desafiante, Transtornos Específicos de Aprendizagem (Dislexia, Discalculia e Disgrafia), Ansiedade e Depressão.

O TDAH acomete crianças, adolescentes e adultos. De acordo com o DSM V a prevalência do transtorno é de aproximadamente 5% nas crianças e 2,5 % nos adultos. Além disto, é mais frequente no sexo masculino do que no sexo feminino.

criança com tdah

Sintomas do TDAH

O TDAH é um transtorno neurobiológico com sintomas classificados em três categorias: desatenção, hiperatividade e impulsividade.

Os sintomas da desatenção podem se manifestar das seguintes maneiras:

  • não reparar em detalhes, falta de atenção em tarefas, parecer não ouvir, não conseguir terminar as tarefas, dificuldade para organizar tarefas, evitar tarefas que exigem atividade mental prolongada, perder ou esquecer coisas com frequência, distrair-se facilmente, e outros.

Já os sintomas de hiperatividade e impulsividade podem ser:

  • remexer mãos e pés, dificuldades para sentar sem se contorcer, levantar da cadeira frequentemente numa situação em que se espera que se mantenha sentado, correr ou subir em coisas, sensações de inquietude, incapacidade de ficar quieto, sentir-se desconfortável ao permanecer sentado ou parado por muito tempo, falar excessivamente, responder antes do tempo, relutar em esperar sua vez e interromper e intrometer em conversas e atividades de outras pessoas.

Estes sintomas quando persistentes por pelo menos seis meses, com início antes dos 12 anos, estando presentes em múltiplos ambientes e resultando em dificuldades de desempenho social, educacional e profissional são sinais de alerta e devem ser investigados. Ressalta-se que a manifestação destes sintomas de maneira isolada e sem ser de forma pontual não consiste no Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.

Sintomas do TDAH infância

Durante a pré-escola, a hiperatividade é um dos principais sintomas do TDAH que manifestam no comportamento da criança, existe uma atividade motora excessiva, agitação e inquietude que se diferenciam do comportamento de crianças sem o transtorno.  Já os sintomas de desatenção costumam ficar mais evidentes no início do ensino fundamental quando as atividades escolares demandam mais esforço mental e envolvimento prolongado nas tarefas. A tendência é que as queixas atencionais aumentem no fim da infância e início da adolescência. A maturação cerebral pode explicar o progresso que muitas crianças apresentam na adolescência em relação ao TDAH.

Sintomas do TDAH em adultos

adulto com tdahOs sintomas do TDAH podem persistir na idade adulta. Embora os sinais de hiperatividade diminuam, ainda é comum perceber no adulto com TDAH uma inquietude extrema, dificuldade em diminuir o nível de atividade e de completar tarefas, bem como um esgotamento dos outros que convivem esta hiperatividade.

Quais as opções de tratamento do TDAH?

 As opções de tratamento do TDAH dependem da avaliação de cada caso, ou seja, o especialista irá avaliar qual a melhor alternativa de tratamento para cada pessoa.

Para as crianças e adolescentes que apresentam o TDAH, o tratamento medicamentoso aliado ao acompanhamento psicológico e/ou psicopedagógico, o acompanhamento familiar, bem como a parceria da escola poderão ajudar na superação dos prejuízos do transtorno e no desenvolvimento das habilidades deficitárias.

 Tratamento do TDAH através de medicamentos

O tratamento com estimulantes se for necessário, deverá ser recomendado e prescrito pelo médico. O tratamento farmacológico vai depender da idade, intensidade dos sintomas, prejuízos e comorbidades. Os estimulantes mais recomendados são o metilfenidato e a lisdexanfetamina. Dentre os benefícios destes medicamentos, pode-se destacar: diminuição da impulsividade e da atividade motora, aumento da vigilância e melhora da memória recente. O uso destes medicamentos por pessoas sem o transtorno e sem uma prescrição médica é ineficaz e ilegal.

A intervenção psicopedagógica como suporte ao tratamento do TDAH

intervenção atenção tdah

O déficit de atenção e hiperatividade/impulsividade pode afetar a aprendizagem e consequentemente o rendimento escolar de crianças e adolescentes. A intervenção psicopedagógica é recomendada para trabalhar com melhores estratégias de aprendizagem; com o domínio acadêmico de maior prejuízo: escrita, leitura ou matemática; com as habilidades cognitivas alteradas, como a atenção e com o estabelecimento de agendas e rotinas de estudos. Também, podem ser trabalhadas as funções executivas (planejamento, controle inibitório, memória operacional e flexibilidade cognitiva) através da intervenção psicopedagógica.

Devido ao impacto do TDAH na aprendizagem escolar, algumas adaptações e estratégias no contexto da sala de aula são recomendadas a fim de melhorar os problemas de comportamento e o desempenho acadêmico das crianças.

Especialmente relevante para o sucesso do tratamento, é o conjunto das seguintes ações: acompanhamento psicopedagógico, apoio da escola e acompanhamento da família. Como resultado deste processo, as crianças poderão alcançar um desenvolvimento escolar mais satisfatório e melhorarem sua autoestima.

A Psicoterapia

A psicoterapia é baseada nas necessidades e demandas do paciente, nas especificidades do transtorno e nas habilidades deficitárias.  De uma maneira geral, a terapia cognitivo-comportamental tem apresentado eficácia para os casos de TDAH e foi comprovada através de vários estudos. O trabalho é direcionado ao funcionamento comportamental e a reestruturação cognitiva, e envolve a busca por mudanças de comportamentos indesejados e pensamentos disfuncionais respectivamente. Além disso, a terapia pode abranger o treino em resolução de problemas e também o treino em habilidades sociais. Parece que o treino em habilidades sociais ajuda a minimizar atitudes e falas impulsivas e possibilita uma comunicação mais assertiva.

O tratamento do TDAH é definitivo?

O TDAH é crônico, podendo persistir ao longo da vida em menor ou maior intensidade,  portanto, a necessidade da continuidade ou não do tratamento depende do controle dos sintomas. O objetivo do tratamento é sempre melhorar o funcionamento da criança, do adolescente e do adulto em todas as áreas da sua vida, social, acadêmica, profissional e emocional e proporcionar-lhes melhor qualidade de vida. Alguns estudos têm apontado que o tratamento do transtorno quando iniciado na infância, diminui os riscos de abuso ou dependência de substâncias na adolescência. Por fim, é importante destacar que, a busca por informações e conhecimento sobre o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, auxilia o paciente a obter auto compreensão sobre como os sintomas do transtorno afetam a sua vida, tanto quanto, colabora para a sua auto superação.

Cristiane Freitas / Ms em Educação pela UFMG / Especialista em Neuropsicologia e Psicopedagogia

Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5 – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed, 2014.

SILVA, Ana Beatriz B. Mentes inquietas: TDAH : desatenção, hiperatividade e impulsividade / Ana Beatriz Barbosa Silva. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

ROTTA, Newra Telllechea , OHLWEILER, Lygia e RIESGO, Rudimar dos Santos. Transtornos da aprendizagem: abordagem neurobiológica e multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed., 2016.

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